REABSORÇÃO RADICULARES PATOLÓGICAS NOS DENTES DECÍDUOS

REABSORÇÃO RADICULARES PATOLÓGICAS NOS DENTES DECÍDUOS

Afinal, o que é uma reabsorção radicular dos dentes decíduos?

Inicialmente, precisamos considerar que as reabsorções radiculares podem ser processos fisiológicos ou patológicos.

Na reabsorção fisiológica tudo segue um padrão de normalidade, sendo desejada, pois o dente decíduo terá sua raiz reabsorvida para ser substituída, no momento certo, pelo dente permanente.

Já na reabsorção patológica, essa reabsorção acontece de forma irregular, acelerada ou retardada, levando a perda precoce ou retenção prolongada do dente decíduo, podendo causar prejuízos ao dente permanente


Fig. 1 – Na imagem observamos a radiografia de um paciente que sofreu traumatismo dentário.  No dente 51 observamos, além de uma obliteração do conduto pulpar, uma reabsorção radicular patológica sem sinais de infecção, não havendo necessidades de tratamento endodôntico ou exodontia, apenas acompanhamento. Já no dente 61 observamos uma reabsorção radicular infecciosa, por apresentar bordas irregulares, aumento do saco pericoronário e presença de osteólise na região periapical. Clinicamente havia mobilidade moderada e presença de fístula. Neste caso foi indicada a exodontia.

Algumas reabsorções patológicas são acompanhadas por características de infecção, como irregularidade nas superfícies reabsorvidas, radioluscência da região periapical, aumento do folículo do germe do dente permanente e presença de fístula, que indicam necessidade de tratamento endodôntico ou exodontia. Mas vale ressaltar que há evidências de que o tratamento endodôntico em dentes decíduos é sujeito a insucessos e ainda podem ser responsáveis por pequenas alterações nas superfícies dos dentes permanentes. Por isso há necessidade de uma avaliação profissional criteriosa.

Nos casos de reabsorções patológicas sem infecção, não há justificas para o tratamento endodôntico ou exodontia, mas necessita um acompanhamento clínico-radiográfico anual, pois a infecção pode acontecer ao longo do tempo.

Acreditava-se que um determinado tipo de reabsorção patológica não infecciosa, nos dentes decíduos, pudesse ser causado por hábitos de sucção digital. Entretanto, estudos mais recentes sugerem que essas reabsorções conhecidas por “Atípicas, circunferencial, semilunar ou irregular” estejam associadas aos traumatismos dentários.

Fig. 2 – Nesta imagem radiográfica observamos as reabsorções patológicas sem sinais de infecção que eram associadas a hábitos de sucção digital, mas que em estudos recentes associam aos traumatismos dentários.

Outro aspecto importante diz respeito às recorrências de traumatismos em crianças que podem prejudicar a cicatrização, tornando inviável a manutenção do dente decíduo na boca da criança.

Precisamos estar atentos também para as consequências dos traumatismos nos dentes decíduos sobre os dentes permanentes, pois podem trazer consequências importantes e irreversíveis.

Por esses motivos devemos:

  1. Realizar um diagnóstico preciso após traumatismos dentários, especialmente, na intrusão e avulsão dos dentes decíduos;
  2. Encaminhar o paciente a um odontopediatra;
  3. Acompanhar clinicamente e radiograficamente uma vez por ano.

Quando intervir em dentes traumatizados (tratamento endodôntico ou exodontia) ou simplesmente um acompanhamento clínico-radiográfico rigoroso é uma dúvida comum entre profissionais, e esperamos ter trazido um pouco de luz sobre o assunto.

Rogério de Almeida Geraldino, CD, MSc
Especialista em Odontopediatria e Saúde Coletiva  Fellow of International Association of Dental Traumatology

Referências Bibliográficas

Holan G, Yodko E, e Sheinvald-Shusterman K. A associação entre lesões dentárias traumáticas e reabsorção radicular externa atípica em incisivos primários superiores. Dent Traumatol 2015, 31: 35-41. 

Flores MT, Onetto JE. Como o trauma orofacial em crianças afeta o desenvolvimento da dentição? Tratamento a longo prazo e complicações associadas. Dent Traumatol 2019; 35: 312-323.